Pular para o conteúdo principal

Mães atípicas: para cuidar com amor, é preciso cuidar de si - por Syomara Cristina Szmidziuk

 Ana sempre sonhou com a maternidade. Quando seu filho, Pedro, nasceu e foi diagnosticado com uma condição neurológica rara, sua vida mudou. Deixou o emprego, adaptou sua rotina e se tornou onipresente em cada etapa do desenvolvimento. Com o tempo, Ana foi esquecendo de si mesma. Seu mundo passou a girar apenas em torno dos cuidados, e o cansaço e a solidão se tornaram companhias constantes. Ana é um exemplo fictício, mas reflete a realidade de muitas mães atípicas: mulheres que precisam ser lembradas de que, para cuidar bem, é preciso, antes de tudo, cuidar de si.


Ser mãe atípica é atravessar uma transformação profunda na forma de ver o mundo e de se relacionar com a vida. Mulheres que têm filhos com deficiências intelectuais, físicas, transtornos do espectro autista ou síndromes raras se tornam, muitas vezes, mais do que mães: tornam-se cuidadoras constantes, presentes em todas as dimensões do desenvolvimento de seus filhos.


Essa dedicação é, sem dúvida, belíssima. O envolvimento ativo da mãe faz diferença decisiva no progresso, na reabilitação e na socialização da criança. No entanto, também é comum que a mulher, diante dessa entrega integral, acabe negligenciando suas próprias necessidades enquanto ser humano.


Abandono e sobrecarga


Uma das primeiras condições para que a mãe atípica não se perca de si mesma é contar com uma rede de apoio. No entanto, sabemos que nem sempre essa rede se concretiza. Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Baresi, cerca de 78% dos pais abandonaram as mães de crianças com deficiências e doenças raras no Brasil antes que os filhos completassem cinco anos. Essa realidade impõe às mães uma sobrecarga emocional e física que precisa ser reconhecida.


Construir uma comunidade de apoio, especialmente com outros pais e mães atípicos, torna-se um pilar de autocuidado. Nessas relações de troca, é possível reencontrar a autoestima, redescobrir, a partir do exemplo de vivências de terceiros, possibilidades de vida social, de vida afetiva, sexual e de atenção à própria saúde física e mental.


O cuidado físico também é essencial. Muitas mães que precisam erguer, carregar ou movimentar seus filhos desenvolvem lesões musculoesqueléticas ao longo dos anos. A intervenção da terapia ocupacional, tanto para a criança quanto para a mãe, faz diferença ao orientar estratégias de proteção ao corpo e adaptação de tarefas diárias, ajudando a preservar a autonomia e prevenir complicações de saúde.


Não menos importante é o acompanhamento psicológico. A sobrecarga emocional de quem cuida é intensa e acumulativa. Estresse, ansiedade, medo do futuro e de imprevistos na vida causarem sua ausência na vida da criança, são sentimentos frequentes que merecem acolhimento e tratamento.


Conhecer seus direitos


Outro ponto fundamental é o conhecimento dos direitos das mães atípicas. Recentes decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST) têm reconhecido, por exemplo, o direito à redução ou flexibilização da jornada de trabalho sem redução salarial para quem tem filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA).


Isso possibilita às mães negociar com seus empregadores formas de trabalho que respeitem sua condição de cuidadora. Benefícios sociais como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) também são direitos importantes, que podem aliviar o peso financeiro, anda mais da mãe em situação de abandono.


Valorizar a própria existência é, portanto, uma estratégia de sobrevivência e resistência. Estar presente para si mesma é o que permitirá, a longo prazo, que a mãe atípica continue estando presente para seu filho, com a força e a ternura que esse papel tão singular exige.






* Syomara Cristina Szmidziuk - atua há 34 anos como terapeuta ocupacional e tem experiência no tratamento em reabilitação dos membros superiores em pacientes com lesões neuromotoras. Faz atendimentos com terapia infantil e juvenil, adultos e terceira idade. Desenvolve trabalhos com os métodos Bobath, Baby Course Reabilitação Neurocognitiva Perfetti, Reabilitação de Membro Superior- Terapia da Mão, Terapia Contenção Induzida (TCI) e Imagética Motora entre outros.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nasceu Maria Clara

 Nasceu Maria Clara no dia 06/03/2025, no hospital Instituto Pernambuco (IP), em Caruaru. Filha do casal Alann Rogério e Gisely Raiane, a recém-nascida é bisneta do casal Fábio Santana e Maria Marques. Alann Rogério, pai da criança, agradeceu ao Senhor Deus pela chegada da menina. "Clarinha é um grande presente de Deus para mim e para minha esposa", afirmou. Bisavô de "Clarinha", o comunicador Fábio Santana, que também é colaborador de Contexto Blog, demonstrou muita alegria com o crescimento da família. "É uma bênção de Deus o nascimento da minha bisneta Maria Clara, linda e saudável", declarou, emocionado. Avó da recém-nascida, a professora Alanna Ynis traduziu em palavras um pouco da sua emoção e fé. "Família é uma bênção de Deus, e Clarinha chegou para nossa alegria", disse Alanna, que é mãe do pai de Clarinha. Contexto Blog também saúda a recém-nascida e parabeniza a família, desejando-lhes que as bênçãos divinas sejam abundantes. Alanna Yni...

O Legado de Fátima Quintas: O Tempo, a Cultura e a Escrita - por Marcos Carneiro Xepa

 FELIZ ANIVERSÁRIO! A renomada antropóloga, contista, ensaísta e cronista brasileira. Maria de Fátima de Andrade Quintas, nasceu num período carnavalesco em 28 de fevereiro de 1944, em Recife. Herdou do seu pai, o famoso historiador pernambucano, Amaro Quintas, o hábito de escrever e ler. Formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco e em pós-graduação em Antropologia Cultural no Instituto de Ciências Sociais e Política Ultramarina, em Lisboa.  Fátima Quintas contribui significativamente para grandeza da literatura e antropologia brasileira. Suas pesquisas em torno das obras de Gilberto Freyre a transformou em uma das mulheres notáveis como pesquisadora e escritora. Em seu pioneirismo acadêmico. Foi a primeira mulher a assumir o cargo de presidente da Academia Pernambucana de Letras de 26 de janeiro de 2012 a 26 de janeiro de 2016, ocupa a cadeira 31 desde 3 de abril de 2003.  Pela sua grandeza literária, destacou-se em várias entrevistas para a m...

Versículos inspiradores

 A vida é cheia de desafios que nos testam a força, a resiliência e a fé. Mas, com a ajuda de Deus, podemos enfrentar esses desafios e sair vitoriosos. "Eu posso todas as coisas em Cristo que me fortalece" (Filipenses 4:13). Essas palavras do apóstolo Paulo nos lembram de que não estamos sozinhos em nossos desafios. Deus está conosco, nos fortalecendo e nos dando a capacidade de superar qualquer obstáculo. Mas, como podemos enfrentar esses desafios? Primeiro, precisamos confiar em Deus e em sua palavra. "Confie no Senhor com todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento" (Provérbios 3:5). Quando confiamos em Deus, podemos ter certeza de que Ele nos guiará e nos dará a sabedoria necessária para tomar as decisões certas. Além disso, precisamos ser perseverantes e não desistir diante das dificuldades. "Sede perseverantes, porque sabeis que a vossa perseverança tem um alvo completo" (Colossenses 4:12). A perseverança é fundamental para superar ...