Nesta sexta-feira (27/06), autoridades da Indonésia divulgaram os resultados da autópsia da brasileira Juliana Marins, que faleceu após cair enquanto escalava o Monte Rinjani, o segundo vulcão mais alto do país. O laudo aponta que Juliana teria morrido cerca de 20 minutos após sofrer ferimentos traumáticos, tempo contestado por uma perita que atuou na Polícia Científica do Paraná, em razão das limitações periciais na determinação do tempo de morte.
De acordo com a médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, essa estimativa de 20 minutos não pode ser considerada definitiva, pois envolve diversas variáveis que extrapolam os achados anatomopatológicos. “As imagens de drone divulgadas mostram que Juliana ainda apresentava movimentação corporal e estava sentada após a primeira queda, o que indica que houve sobrevida após o evento inicial. Além disso, há indícios de que a vítima tenha sofrido várias quedas, o que impede a diferenciação precisa entre os ferimentos causados em cada uma delas”.
Segundo a especialista, atribuir o tempo de morte a partir de um único ferimento ou da ausência de determinadas lesões, como hérnia cerebral, pode induzir a erro. “A cronotanatognose, estudo do tempo de morte, é um campo com margem de incerteza significativa, especialmente em cenários extremos como este”, afirma a perita.
Outro ponto importante destacado é o efeito da hipotermia, que não pode ser descartado como fator concorrente. “A hipotermia pode não apresentar sinais externos evidentes, como necrose em extremidades, especialmente se o corpo evoluiu rapidamente para o óbito ou se foi protegido parcialmente por roupas ou abrigo”, explica a médica.
“Além disso, o corpo foi localizado quatro dias após a queda, em uma região de difícil acesso e baixa temperatura, mas que, paradoxalmente, já apresentava sinais de decomposição mesmo com as condições ambientais de altitude e frio, o que compromete a interpretação de alguns achados na necropsia”, enfatiza.
Daitx reforça que é preciso cautela ao interpretar dados periciais em público. “A família tem direito à busca por esclarecimentos, mas as conclusões devem respeitar os limites científicos e as variáveis complexas envolvidas em casos de morte em ambiente natural hostil”, conclui.
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